Neide A. Fonseca
As casas espíritas e o aborto
As casas espíritas por sua vocação, tal
qual a Casa do Caminho a época do cristianismo primitivo, deve abrigar; amparar
a todos os necessitados do corpo e da alma. Deve esclarecer os ensinamentos de
Jesus, com uma linguagem adequada aos novos tempos, porem, com o mesmo conteúdo
amoroso e cheio de esperança.
Na Casa do Caminho, assim como Jesus, os
apóstolos ensinavam e praticavam, espalhando o consolo e o esclarecimento do
Evangelho. Na atualidade nos – os espiritistas, que pretendemos reviver o
cristianismo em sua pureza, precisamos rever algumas ações, notadamente no que
se refere ao aborto.
Aprendemos, conforme questão 358 do O
Livro dos Espíritos, que aborto é
crime, logo, quem comete tal ato é criminoso. A partir daí mal falamos sobre o
assunto seja para esclarecer amorosamente, seja consolar uma irmã em Cristo que
tenha praticado o ato.
Raríssimas
vezes o Atendimento Fraterno das Casas Espíritas tem atendido mulheres que
pensam em praticar ou tenham praticado o abortamento. Por ser um tema difícil,
não se sentem à vontade para ‘abrir’ o coração com medo de serem condenadas,
saindo muitas vezes pior do que quando entraram, sem uma palavra de consolo e
de esperança.
Se
Jesus não condenou a ninguém, quem somos nos para condenar? A mulher que fez um
abortamento deve sair da Casa Espírita com esperança, com desejo de refazer o
caminho, confiante de que não será apedrejada em praça publica porque ninguém a
condenara.
Outra
dificuldade das Casas Espíritas são as palestras publicas sobre o tema, que na
maioria das vezes, também não são esclarecedoras e consoladoras, ao contrario,
falam de perseguição espiritual; obsessão; umbral; ate criaram o tal vale dos
abortados. Atemorizam, desanimam!
Por
obvio que a reparação à lei imutável terá de ser feita, porem não com o
sentimento de culpa, que paralisa a criatura, mas com o sentimento consciente
de quem entendeu o valor da vida no corpo físico, e que Deus em sua infinita
sabedoria não condena nem absolve ninguém, tudo esta na nossa consciência. E é
ela quem nos cobra e nos impulsiona a reparar o erro e a nos harmonizarmos com
o Universo.
É papel das Casas
Espíritas auxiliar na reeducação das criaturas com base no Evangelho,
principalmente nesse período que a humanidade atravessa, em tempos de
acirramento do materialismo.
Como ensina André Luiz¹, “Temos no Plano Terrestre cada povo com seu
código penal apropriado à evolução em
que se encontra.... Uma existência pode estar repleta de acertos e
desacertos, méritos e deméritos e a Misericórdia do Senhor preceitua, não que o
delinqüente seja flagelado, com extensão indiscriminada de dor expiatória, o
que seria volúpia de castigar nos tribunais do destino, invariavelmente regidos
pela Equidade Soberana, mas sim que o mal seja suprimido de suas vítimas, com a
possível redução de sofrimento......”.
Nesse momento
em que no Brasil a mudança do Código Penal esta em discussão, as Casas
Espíritas tem o dever de esclarecer em suas palestras o significado real da
vida.
Se por
ventura, o Congresso Nacional aprovar a proposta da comissão de juristas
responsáveis pelas mudanças no Código Penal, teremos a ampliação de
possibilidades do aborto legal.
Embora no novo texto, a pratica do aborto
continuar sendo crime nas duas situações já existentes, ampliam-se as
possibilidades da pratica de abortamento legal, no caso de anencefalia e outras
doenças que segundo o entendimento deles possam impedir a vida extra-uterina.
Também deixara de ser crime o aborto por vontade
da gestante até a 12ª semana da gestação (3. mês de gestação), quando o médico
ou psicólogo constatar que a mulher não apresenta condições psicológicas de
arcar com a maternidade.
Os abortistas consideram estar dando um
passo significativo na liberdade da mulher sobre seu próprio corpo. É
um
ganho, segundo essas pessoas, para a autonomia sexual e reprodutiva das
mulheres. Porem, afirmam ainda que a proposta não é
a ideal, porque não traz a autonomia da mulher como principio, ou seja, não é
a mulher quem decide, mas sim um especialista.
Os que defendem tanto os “avanços” como
os que querem mais, se articulam e estão tentando influenciar ao maximo o
Congresso para verem seus objetivos alcançados.
O Parlamento é a Casa do Povo.
Deste modo, podemos e devemos participar desse debate expondo nossas idéias,
nosso conhecimento teórico e pratico a respeito.
Devemos fazer de cada Casa Espírita um
front na luta pela vida. Esclarecendo a todos que freqüentam nossas palestras
publicas e a população do entorno.
A defesa da vida tem que ser pauta
constante dos palestrantes.
Campanhas de rua devem ser feitas,
sempre levando mensagens esclarecedoras em prol da vida.
Não haverá mundo de regeneração se não
houver o fim do abortamento.
Para dizer não ao anteprojeto do Código
Penal - PLS 236/2012, é preciso mais do que o uso pelos militantes
da causa, de camisetas dizendo não ao aborto. E preciso mostrar para as pessoas
que: “Quando qualquer crime seja tornado um comportamento
legal, jamais se enquadrará nos processos morais das Leis Soberanas que
sustentam o Universo em nome de Deus²....”.
Espíritas unamo-nos pela vida contra o aborto.
Esse é o
momento de mostrarmos nossa fidelidade a Jesus e não negá-lo por três ou mais
vezes como outrora já o fizemos. Que nossas Casas Espíritas sejam como a Casa
do Caminho de priscas eras!
Neide A. Fonseca
– Especialista em Direito Constitucional e Político. É Espírita militante da
Associação Espírita Kardecista Raio Luz. Participante da Equipe do EFE (Projeto
Estudos Filosóficos Espíritas) e do VER (Projeto Visão Espírita da
Religiosidade).
¹ Xavier,
Francisco Candido; Vieira, Waldo, pelo Espírito André Luiz. – Evolução em dois
mundos – FEB.
² FRANCO, Divaldo Pereira. Alerta. Pelo Espírito
Joanna de Ângelis. LEAL